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Diabetes e Doença Celíaca: quais os efeitos do glúten no corpo?

Fazer as dietas com restrição ao glúten está na moda. É muito fácil encontrar, nas redes sociais e internet em geral, dicas e recomendações de como “cortar” o glúten da alimentação e os benefícios ao excluir esse nutriente.

Mas será que uma alimentação livre de glúten realmente contribui para a saúde?

A dieta restritiva, ou seja, aquela que elimina totalmente o glúten da alimentação, só é indicada para quem apresenta algum tipo de reação ao seu consumo como pessoas com a doença celíaca ou com intolerância ao glúten.

Embora o Brasil tenha poucas pesquisas sobre o glúten, sabe-se que 1% da população tenha intolerância ou alergia a ele, segundo dados do HCOR.

Será que pessoas que não têm a doença celíaca podem restringir o glúten da alimentação?

Para entender melhor essa associação, confira ao longo desse texto o que é o glúten, quem tem restrição a essa proteína e como funciona a alimentação para quem possui a restrição.

Intolerância ao glúten

O glúten é uma proteína presente em alguns cereais, como o trigo, centeio, malte, cevada, aveia e triticale. Na verdade, ele é a combinação de dois grupos de proteínas: a gliadina e a glutenina, encontradas dentro de grãos de trigo, cevada e centeio.

Você deve estar se perguntando: quais alimentos possuem glúten?

Bem, todo alimento produzido com o uso de farinha de trigo, cevada, malte ou centeio, ou seja: bolos, biscoitos pães, torradas, massas de pizza, macarrão e cerveja.

A verdade é que a lista de alimentos que contém glúten é bem extensa.

O que é a Doença Celíaca?

A intolerância ao glúten, também conhecida como doença celíaca, é uma patologia que acomete o intestino. O que ocorre é que o organismo da pessoa não reconhece a proteína do glúten e uma reação de defesa autoimune é desencadeada. Assim, o próprio organismo acaba por destruir as células do intestino que são responsáveis por absorver os alimentos.

Dentre outros, a diarreia crônica e cansaço podem ser sintomas da doença celíaca. Nas crianças, por não conseguirem absorver corretamente as vitaminas e sais minerais, pode ocorrer redução do crescimento e desenvolvimento.

No entanto, uma parte das pessoas que tem doença celíaca é assintomática, isto é, não apresenta qualquer sintoma da doença.

O que é Diabetes?

Diabetes é uma doença crônica causada por um defeito da produção ou má utilização da insulina pelo corpo, o que causa aumento dos níveis de glicose (açúcar) no sangue.

Para gerar energia para o corpo, a glicose precisa “entrar” nas células (músculos, coração, olhos etc.), e a insulina “abre a porta” da célula, permitindo entrada da glicose para gerar energia. Se não há insulina ou esta não funciona adequadamente, não há entrada de glicose nas células e os níveis no sangue ficam altos. É o que chamamos de hiperglicemia.

Há, basicamente, três tipos principais de diabetes. São eles:

  • Diabetes tipo 1;
  • Diabetes tipo 2;
  • Diabetes gestacional.

É importante ressaltar que a prevalência global de diabetes atingiu 9,3%, com mais da metade (50,1%) dos adultos não diagnosticados e com o diabetes tipo 2 sendo responsável por cerca de 90% de todas as pessoas com diabetes. Esses resultados são do Atlas do Diabetes e são importantes para mostrar que muita coisa precisa ser feita para reduzir o impacto do diabetes.

As evidências sugerem que o diabetes tipo 2, muitas vezes, pode ser prevenido, enquanto o diagnóstico precoce e o acesso a cuidados adequados para todos os tipos de diabetes podem evitar ou retardar complicações em pessoas que vivem com a doença.

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Agora que vimos a definição das duas patologias e como elas funcionam no organismo das pessoas, que tal falarmos sobre a relação entre elas?

Diabetes e doença celíaca

Existem diversos estudos sendo realizados para investigar a associação da doença celíaca com outras patologias autoimunes e crônicas. Isso porque, ao longo da história, diversos grupos de pacientes que apresentam alguma doença crônica ou autoimune, apresentaram, também, desenvolver a doença celíaca. (11)

Esse é o caso do diabetes tipo 1. Estudos já realizados apontam que a patologia tem uma relação com a doença celíaca.

Mas essa relação entre as duas patologias é instigante, pois pacientes com diabetes tipo 1 possuem pré-disposição para o desenvolvimento da doença celíaca. Já pessoas que fazem uma dieta restritiva de glúten correm um risco maior do desenvolvimento do diabetes tipo 2. Confira abaixo todos os detalhes sobre esses estudos: (11)

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, foi observado que pacientes com diabetes tipo 1 apresentam mais chances de desenvolver a doença celíaca comparados a população geral.

A prevalência de doença celíaca entre portadores de Diabetes tipo 1 tem sido estimada em cerca de 4%, com variação entre 0% e 10,4%, superando, em muito, a prevalência da população geral (0,5% e 1%). (11)

Essa ligação entre a diabetes tipo 1 e a doença celíaca foi estabelecida pela primeira vez na década de 1960. A prevalência estimada de doença celíaca em pacientes com diabetes tipo 1 é de aproximadamente 6% e cerca de 1% na população em geral.

Devido à prevalência significativamente maior da doença celíaca em pacientes com diabetes tipo 1, muitos médicos recomendam fazer o rastreio da doença celíaca após um diagnóstico de diabetes tipo 1, bem como incentivam os pacientes com doença celíaca a fazer o rastreio para diabetes.

 No entanto, ainda não se sabe como as duas doenças estão interligadas. Testes genéticos vêm sendo realizados ao longo dos anos para descobrir o porquê de pacientes com diabetes apresentarem maior pré-disposição para o desenvolvimento da doença celíaca. (12)

Já a associação do diabetes tipo 2 e a doença celíaca surgiu após os estudos realizados por pesquisadores do Departamento de Nutrição da Universidade de Harvard que analisaram três estudos com mais de 200 mil pessoas em 30 anos. (12)

Os estudos apontaram que pessoas que fazem dietas restritivas a glúten possui um maior risco de desenvolver diabetes tipo 2. (12)

Isso ocorre porque, ao restringir a ingestão da proteína vegetal, as pessoas tendem a comer menos cereais integrais, que têm menor índice glicêmicos e são absorvidos mais lentamente pelo organismo. Isso aumenta o risco de desenvolvimento da doença. (12)

O estudo ressalta que a incidência de diabetes é maior, mas não há nenhuma relação de causa e efeito entre às duas patologias. Ou seja, aquela ideia de que quem cortar glúten terá diabetes, não é verdade. Pois não existe essa relação direta. (12)

O que ocorre é que a dieta restritiva aumenta o risco de diabetes tipo 2 em pessoas que já sejam pré-dispostas, com obesidade, histórico familiar e outros riscos associados ao desenvolvimento da diabetes. (12)

Gerenciando doença celíaca e diabetes

Assim como em qualquer outra doença que tem restrição alimentar, é necessário realizar uma consulta ao médico e, posteriormente, fazer o acompanhamento necessário conforme as orientações.

Há estudos que revelam que uma dieta sem glúten pode melhorar o controle glicêmico para pacientes diabéticos, embora isso ainda seja controverso, pois alguns estudos apoiam a ideia e outros sugerem que não há diferença no controle glicêmico entre pacientes diabéticos normais e pacientes diabéticos com doença celíaca em uma dieta sem glúten. (13)

O mais importante de lembrar é que nem sempre o que funciona bem para outra pessoa também funcionará da mesma forma para você. Cada paciente é um caso, por isso o acompanhamento e aconselhamento do seu médico é sempre o mais importante para controle da doença.

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Referencias
  1. https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/nutricionista-do-hcor-alerta-para-os-riscos-de-uma-dieta-sem-gluten/
  2. https://www.spdm.org.br/blogs/nutricao/item/1357-48o-que-e-gluten
  3. http://hospitalsaomatheus.com.br/blog/afinal-o-que-e-gluten/
  4. https://www.diabetes.org.br/publico/temas-atuais-sbd/1038-diabetes-e-intolerancia-ao-gluten
  5. https://www.programafazbem.com.br/Diabetes
  6. https://www.diabetes.org.br/publico/diabetes/tipos-de-diabetes
  7. https://www.endocrino.org.br/numeros-do-diabetes-no-mundo/
  8. diabetesatlas.org.
  9. https://www.diabetes.org.br/publico/temas-atuais-sbd/1038-diabetes-e-intolerancia-ao-gluten
  10. http://www.revistafjn.com.br/revista/index.php/eciencia/article/view/10
  11. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302008000900009#:~:text=A%20preval%C3%AAncia%20de%20doen%C3%A7a%20cel%C3%ADaca%20entre%20portadores%20de%20DM1%20tem,principal%20fator%20para%20esta%20associa%C3%A7%C3%A3o.
  12. https://www.anad.org.br/estudo-associa-dieta-sem-gluten-a-maior-risco-de-desenvolver-diabetes/
  13. https://celiac.org/about-celiac-disease/related-conditions/diabetes-and-celiac-disease/
R-12399. Material destinado a pacientes. Maio/2021 

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